O problema lógico de que falo no post abaixo é uma pequena racha numa narrativa, construída com base numa linguagem e numa simbologia pouco sortida e muito superficial, e que serve para envolver a manada de elefantes rosa que habita a pequena sala de estar da nossa economia. Claro que essa linguagem não fecha bem, e deixa ver pelas rachas que os elefantes estão lá. Um dos símbolos mais utilizados nesta narrativa é a de que o problema do default é um problema ideológico: de um lado temos partidos que não querem honrar uma dívida gerada numa economia centrada no mercado, do outro temos partidos que querem entregar o dinheiro aos malvados dos banqueiros, sacrificando os mais pobres.
Mas o elefante do default não é uma criação ideológica - a ideologia só o está a tapar. Sem me preocupar com a questão ideológica dos partidos - que, na verdade, nem será tanto ideológica como estratégica -, interessa-me mais a falha na lógica económica que está na raíz de se acreditar que o default será resolvido com as medidas de austeridade: acredita-se que se se reduzir a despesa do estado, vai sobrar mais dinheiro para pagar a dívida. Esta ideia até parece algébrica: gasta-se menos, tem-se mais dinheiro para se pagar o que se deve. Mas não é algébrica, é apenas ideológica: menos despesa por parte do Estado gera uma menor receita por parte do outro vaso comunicante - os privados. Como Keynes demonstrou, se todos quiserem poupar ao mesmo tempo - privados e público - na verdade ninguém consegue poupar mais, a riqueza cai e a possibilidade de pagar o que se deve diminui. A posição merante ideológica tem raíz na ideia que o estado opera numa lógica de jogo de soma nula, onde absorve os recursos que poderiam estar nos privados - não gerando nenhum valor em si mesmo.