É curioso o papel que as fotografias tiveram no evento da morte de bin Laden, um símbolo que eu acho pouco competente para a guerra ao terror. A morte está em particular marcada por três fotografias:
A primeira, cuidada, estudada, seleccionada entre várias, foi tirada na cave da casa branca, e mostra o Presidente, a Secretária de Estado e os principais conselheiros militares e políticos com semblante pesado, observando o movimento da morte que era filmada por câmeras instaladas nos capacetes dos militares e que era reproduzida num ecrã que não aparece na foto. As pessoas mais poderosas do mundo acompanham, num momento estático, a evolução da acção de militares altamente qualificados e anónimos, dos quais exclusivamente dependia o sucesso da acçao. É para este movimento que eles se voltam, como que magneticamente.
A segunda foto foi colocada a circular poucos minutos depois da morte de bin Laden, e era falsa, forjada por amadores alguns anos antes, a partir de uma ferramenta popular, o photoshop. Durante algum tempo, e enquanto se acreditava que a foto fora disponibilizada pelo próprio governo americano, ela serviu para alimentar teorias da conspiração - para os espectadores, nós todos, foi a primeira e talvez única vez en que tivemos acção, neste caso reacção, errada, que fez a alguns questionar se bin Laden teria sido realmente morto. Foi.
A terceira foto, a verdadeira fotografia de bin Laden morto, e após dois dias de discussão interna sobre se deveria ser disponibilizada, decidiu-se não o fazer. E não se fez porque a sua disponibilização poderia gerar uma acção violenta por parte da al Qaeda.
Esta história das fotos faz-me lembrar a minha última aula de italiano, onde o nosso professor nos explicou que o passado próximo forma-se utilizando um de dois verbos auxiliares: o verbo essere (ser) ou avere (ter). O verbo essere é apropriado para as situações dinâmicas, em que houve um processo, com princípio, meio e fim, e onde se mudou de estado: o passado do verbo uscire (sair), porque implica uma mudança de estado - entre estar e deixar de estar num sítio qualquer -, é conjugado com o verbo essere (sono uscito). O verbo avere, ao invés, usa-se com momentos isolados no tempo: o verbo dormire (dormir) conjuga-se com o verbo avere (ho dormito).
A morte de bin Laden é um verbo de ter, e não de ser.