Desde pelo menos a primeira guerra mundial, onde os proletários dos vários países tomaram armas para se combaterem entre si e não as classes com que se confrontavam no processo produtivo, que a esquerda enfrenta e procura explicar o porquê de nem sempre aqueles por quem se diz bater estarem do seu lado.
Parece-me, no entanto, uma deliciosa novidade esta de os ricos dos outros países ultrapassarem a retórica neoliberal portuguesa pela esquerda, e forçarem, a muito contragosto, o nosso governo a aceitar discutir a imposição de um imposto à riqueza. É preciso lembrar que esta coligação ganhou as eleições sob um entendimento muito particular de que, se aos empresários fosse entregue mais dinheiro, estes iriam poder gerar mais emprego e fazer a economia crescer. Este entendimento é aquele que está na base da proposta de descida significativa na TSU, mas também na redistribuição agressiva de rendimento dos mais pobres para os mais ricos que este governo tem levado a cabo desde que tomou posse - mesmo que, ressalva seja feita, esta última não tenha sido acompanhada por um discurso que explicite a crença de que dar dinheiro aos mais ricos é bom para a economia, ficando assim a ideia de que talvez até já se aceite tratar-se apenas de uma preferência ideológica. Ora agora são os próprios ricos a dizer que a solução para a crise não passa por terem mais, mas sim menos dinheiro. É delicioso, a sério. Imagino muito economista académico com dificuldades em desenhar os exames para a época especial de Setembro, mas a parte mais deliciosa é mesmo a de imaginar os assessores do Álvaro à nora.
Claro que se pode alegar que o governo estava a pensar nos empresários das PMEs, e não nos accionistas das grandes empresas - talvez os primeiros não sejam sequer ricos, e não venham sequer a pagar o possível imposto. Mas então seria de esperar que se tivesse falado em excluir as grandes empresas do jacktop da redução na TSU, coisa que nunca ouvi.