Vou citar em dois posts seguidos Krugman, mas é por um bom motivo. Neste artigo de opinião, ele cita números que vale a pena colar nos vidros traseiros nestas discussões sobre saúde, evitando talvez sermos albarroados por camiões dos seguros de saúde privados. Esses números nem são o centro do argumento para o sistema de saúde norte-americano, mas são-no para o nosso. Os custos do sistema nacional de saúde norte-americano (Medicare) subiram 400% de 1969 a 2009, sendo que os valores dos prémios dos seguros privados subiram 700% no mesmo período. Krugman acompanha estes números apontando que, embora o Medicare tenha feito um mau trabalho em controlar os seus custos, os privados fizeram um trabalho muito pior. Eu daria um passo à frente, avançado com uma convicção que tenho mantido sempre que discuto este tema: os privados não são apenas piores que o público a controlar os custos de saúde; eles são uns dos principais responsáveis pelo aumento dos custos dos sistemas públicos de saúde. A concorrência que o privado tem oferecido ao público tem sistematicamente drenado este último de recursos, elevando a capacidade negocial dos médicos, cujos salários representam uma parte muito substancial dos custos, e mudando os próprios procedimentos de diagnóstico, que agora, para serem considerados realmente seguros para o paciente, têm de incluir um número cada vez maior de testes caros. À medida que o espaço de concorrência entre o público e o privado é alargado, o primeiro tem de escolher entre ver os seus custos subir, ver a sua qualidade baixar, ou ambos. Seria útil um estudo empírico aprofundado sobre este tema, estabelecendo a relação de causalidade entre o alargamento do privado e o aumento dos custos de saúde. Sem esquecer que uma análise de custos tende a sub-avaliar o efeito nefasto da concorrência do privado, dado que, ao retirar cada vez mais pacientes com maiores rendimentos (e, portanto, com maior voz) do sistema público, a opção pela redução na qualidade ganha maior peso.