Thursday, 23 June 2011

Cocaína



Esta tabela com preços da cocaína em vários países ocidentais, publicada pelo economist, parece mostrar como é a oferta que determina o preço da droga e não a procura. O nível dos preços parece não ter qualquer relação com o nível do poder de compra de cada país: o Reino Unido é o país com preços mais baixos, a seguir vem a Holanda, depois Portugal, depois Bélgica, depois Suiça, etc. Além disso, está também des-correlacionado com a proporção de população que consome cocaína, à direita.

Wednesday, 22 June 2011

O real problema

O Governo Alemão propõe uma descida de cerca de 10 mil milhões de euros em impostos para as classes de rendimentos média e baixa. Esta medida pode assemelhar-se, à vista desatenta, como um estímulo à procura - e não me custa acreditar que será assim apresentada. Temos uma situação de crise económica em alguns dos países para os quais a Alemanha exporta, e é necessário estimular a procura doméstica para continuar a garantir níveis elevados de procura agregada.

Mas se a medida é genuinamente do lado da procura, porque é que ela não é feita através da política monetária, ou seja, porque é que o Banco Central Europeu não imprime mais dinheiro, em vez de andar a anunciar que pretende subir a taxa de juro de refinanciamento, em face à sua preocupação com os níveis dos preços registados na zona euro (leia-se, Alemanha)? Afinal, iria beneficiar todos os países, incluindo, e especialmente, os países periféricos.

Esta medida não é do lado da procura, é antes um complemento lógico a uma estratégia centrada na oferta e que tem gerado tão bons frutos. A Alemanha, desde a criação no euro, e com o apoio explícito dos sindicatos, tem sistematicamente restringido as subidas nos salários dos seus trabalhadores, mesmo em face a ganhos importantes de produtividade. O gráfico abaixo mostra a evolução, por um lado, dos custos unitários do trabalho, e, por outro, da produtividade (medida em PIB per capita). Ambas as variáveis assumem valores nominais, com base (100) em 2001.


Fonte: Eurostat

Como é visível, os salários (linha azul) não têm acompanhado os ganhos de produtividade (linha vermelha). Esta é a principal explicação para os excedentes na balança comercial registados pela Alemanha, que têm, como identidade contabilística, espelho em parte dos défices crónicos e na subsequente dívida dos países periféricos da zona do euro. O sucesso comercial da Alemanha foi conseguido em boa parte com base no sacrifício dos trabalhadores alemães, cuja contribuição para o aumento da produção nacional não foi devidamente compensada. Este sacrifício, que foi aceite, está a ser finalmente compensado através de uma redução nos impostos pagos pela classe baixa e média. A estratégia é assim simples: Primeiro cria-se uma união monetária, impedindo os países que comercializam com a Alemanha de desvalorizar as suas moedas, o que tornaria os produtos alemães relativamente mais caro e, portanto, menos apetecíveis. Depois reduzem-se os custos de produção na Alemanha, numa estratégia alinhada com os sindicatos, severamente restringindo a capacidade competitiva dos países com os quais concorre. Depois devolve-se o dinheiro aos trabalhadores, que apoiaram esta opção. A estratégia pode ser inteligente, mas foi longe demais, e a Alemanha poderá ser vítima do seu próprio sucesso, caso o euro colapse e a dívida (que, repita-se, é o outro lado do espelho dos défices comerciais, pelo que as duas realidades são absolutamente indissociáveis) não seja paga na sua totalidade.

Para efeito comparativo, veja-se no gráfico abaixo como os salários em Portugal têm crescido ao nível da produtividade.


Fonte: Eurostat

Família

Para salvar o Natal, aliena-se o resto do ano.

Tuesday, 21 June 2011

As férias do Montesquieu

Parece que o recém-indigitado primeiro-ministro alertou os parlamentares do PSD para que não planeassem férias prolongadas para Agosto. Afinal, é o governo que supervisiona os parlamentares, ou os parlamentares que supervisionam o governo?

Ninguém parece ter-se incomodado com isto. Está bem. Afinal, estão os liberais no poder.

Monday, 20 June 2011

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O frete

Num artigo publicado hoje no Expresso online, Daniel Oliveira identifica três razões para a conquista do poder por parte daquele que considera ser um conjunto de revolucionários de direita: A crise económica, o falhanço das anteriores lideranças do PSD e o desprezo nacional por José Sócrates. Todas são válidas, mas esquece-se da mais imediata: o chumbo do PEC por parte do Bloco de Esquerda e do PCP.

Mas que las hay

Sobre o fim-de-semana, o fim das ideologias, o fim da história e o fim do serviço público.

Friday, 17 June 2011

A banda sonora deste novo governo



Aqui.

Tentei o "H", o "I", e o "J"
E até agora não arranjei uma gata
"L", "M", "N", "O"... A cada letra que passa eu me sinto mais só
"P", "Q", "R", S.O.S!
Socorro! Eu já tô na letra "X"!

Meu caderninho de telefones já tá perto do fim e eu tô longe de um final feliz

Monday, 13 June 2011

Sistema nacional de saúde

Vou citar em dois posts seguidos Krugman, mas é por um bom motivo. Neste artigo de opinião, ele cita números que vale a pena colar nos vidros traseiros nestas discussões sobre saúde, evitando talvez sermos albarroados por camiões dos seguros de saúde privados. Esses números nem são o centro do argumento para o sistema de saúde norte-americano, mas são-no para o nosso. Os custos do sistema nacional de saúde norte-americano (Medicare) subiram 400% de 1969 a 2009, sendo que os valores dos prémios dos seguros privados subiram 700% no mesmo período. Krugman acompanha estes números apontando que, embora o Medicare tenha feito um mau trabalho em controlar os seus custos, os privados fizeram um trabalho muito pior. Eu daria um passo à frente, avançado com uma convicção que tenho mantido sempre que discuto este tema: os privados não são apenas piores que o público a controlar os custos de saúde; eles são uns dos principais responsáveis pelo aumento dos custos dos sistemas públicos de saúde. A concorrência que o privado tem oferecido ao público tem sistematicamente drenado este último de recursos, elevando a capacidade negocial dos médicos, cujos salários representam uma parte muito substancial dos custos, e mudando os próprios procedimentos de diagnóstico, que agora, para serem considerados realmente seguros para o paciente, têm de incluir um número cada vez maior de testes caros. À medida que o espaço de concorrência entre o público e o privado é alargado, o primeiro tem de escolher entre ver os seus custos subir, ver a sua qualidade baixar, ou ambos. Seria útil um estudo empírico aprofundado sobre este tema, estabelecendo a relação de causalidade entre o alargamento do privado e o aumento dos custos de saúde. Sem esquecer que uma análise de custos tende a sub-avaliar o efeito nefasto da concorrência do privado, dado que, ao retirar cada vez mais pacientes com maiores rendimentos (e, portanto, com maior voz) do sistema público, a opção pela redução na qualidade ganha maior peso.

Friday, 10 June 2011

A política dos credores como a negação do liberalismo

Krugman aponta o dedo para o rei que vagueia nú nas academias e nos governos dos países europeus e dos EUA, colocando a questão nos termos que me parecem mais correctos: não existe nenhuma teoria sólida que sustente os planos de austeridade, a redução nos gastos e a política monetária restritiva que o BCE e o FED têm levado a cabo, em face à crise económica que se vive. Por outro lado, os únicos beneficários desta estratégia política são os credores. Nem é preciso estabelecer uma relação causal. Não é preciso acusar os governos de serem reféns dos credores, basta perceber que estes são os únicos beneficários para se poder partir para uma Política séria de oposição a estas políticas.

É preciso perceber que as pessoas que nos emprestaram dinheiro, mais do que conscientes dos riscos que estavam a enfrentar, foram devidamente compensadas com taxas de juros que reflectiam precisamente esses riscos. Ignorar esta realidade é desvirtuar as regras do jogo, e é, na sua essência, curiosamente, a negação do liberalismo: primeiro os credores aceitaram uma aposta e colocaram o dinheiro onde ele era mais rentável, sendo mais rentável apenas por haver risco de não pagamento. Depois, quando o risco de não pagamento se ameaça materializar, correm para que o estado mude as regras do jogo, e faça tudo para impossibilitar o não pagamento.

Ask for a coherent theory behind the abandonment of the unemployed and you won’t get an answer. Instead, members of the Pain Caucus seem to be making it up as they go along, inventing ever-changing rationales for their never-changing policy prescriptions.While the ostensible reasons for inflicting pain keep changing, however, the policy prescriptions of the Pain Caucus all have one thing in common: They protect the interests of creditors, no matter the cost. Deficit spending could put the unemployed to work — but it might hurt the interests of existing bondholders. More aggressive action by the Fed could help boost us out of this slump — in fact, even Republican economists have argued that a bit of inflation might be exactly what the doctor ordered — but deflation, not inflation, serves the interests of creditors. And, of course, there’s fierce opposition to anything smacking of debt relief.

Thursday, 9 June 2011

Tal como o comunismo...

... o liberalismo também está quase sempre para acontecer. Mas há sempre alguém que acaba por se meter no caminho.


Nos tempos do Estaline, o Trotsky era burguês. Mas que Portas é socialista parece-me um franco exagero.

Tuesday, 7 June 2011

Islândia

A aventura da Islândia é para mim o evento mais excitante de um país no século XXI - muito mais do que as poeirentas revoluções no norte de África e incomparavelmente mais do que a captura e morte de bin Laden. Faz-me lembrar a épica revolta dos velhos banqueiros ingleses empregados pelo Crimson Permanent Assurance, que dominam os banqueiros americanos para os quais trabalham, os mandam borda fora do 20º andar como os piratas faziam nas pranchas dos barcos, içam a âncora e zarpam em direcção ao novo mundo.


Monday, 6 June 2011

An intervention from Greece, part I

Pedi ao George Papafragkou que fizesse uma análise crítica sobre a situação que se vive actualmente na Grécia. O George é meu amigo, e está a tirar um Doutoramento em Filosofia na Universidade de Atenas. A situação na Grécia desenha paralelos com a realidade portuguesa que importa conhecer e assumir.

Having been invited to comment on the crisis in Greece I must admit that I am troubled of where to begin from. Perhaps I should start in the middle; how things are now over here. It has been now almost one and a half year since the debt crisis begun and over a year since Greece had to apply for the combined financial aid of the IMF, the ECB and the Eurozone countries.

The first pact signed in May 2010 was called a Memorandum (of Cooperation) and its details were not widely available, not even to the Socialist members of Parliament who voted for it, together with the extreme-right populist LAOS party. But as the EU-IMF loan comes in quarterly installments a combined committee of the three has to approve of the policy measures taken in order for the actual loan installment to be given.

The measures reek of neoliberalism: Increase in VAT and taxes for employees but tax cuts for big business, cuts of 15% in the salaries of the state sector employees and cuts in their pensions, deregulation of the labour market so that people can be fired with less compensation and can work for more hours with much more flexible schedule. More than 100.000 seasonal workers in the public sector did not have their contracts renewed, over a thousand schools were merged with others in rural Greece so that money could be saved, the same will happen for hospitals and universities –which actually have no funds to employ new staff to substitute those going in pension. The interesting thing with deregulation is that it is actually regulation in favour of the capital. I know that I am sounding like an old-fashioned marxist but the deregulation proposed actually imposes through legal measures lower pay for young employees (25% lower), the nullification of contracts between unions and employers and the implementation of “solitary contracts” for each firm and employee, the opening of numerus clausus markets such as the taxi and lorry drivers and pharmacists which will enable big firms to operate instead of the individual entrepreneurs, the loss of university autonomy and be subjection to changes by a committee of “the wise” which will be presided by an IMF counselor.

These measures have not proved adequate, as it was feared when they were first proposed: The growth rate plummeted which led to an increase in the dept ratio to GDP and now Greece is in the midst of recession, 2.35% drop in the GDP in 2009 to be followed by an additional 4.35% in 2010 the year where the IMF/EU-imposed austerity programme begun. At the same time the debt as percentage of the GDP is predicted according to the IMF to rise to 145.2% in 2011 and to 148.8% in 2012 , but according to the European Commission the prediction is for 157.7% and 166.1% respectively. This, combined by the actual loss in government revenue due to the recession and the fall in demand and despite the tax measures continues to give rise to market speculations that Greece will default on its debt, despite the harsh policies followed. Actually the CDS ratings have risen even further making Greece unable of even fathoming a return to the credit markets and undermining the rationale behind the acceptance by the Socialists of the EU-IMF measures, which were supposed to help Greece out of a debt default situation.

Temos quadratura do círculo


Pacheco Pereira nas palavras de James Joyce

Sunday, 5 June 2011

A notar

Com todos os defeitos que tem, José Sócrates foi o único homem que deu uma maioria absoluta à esquerda. Será útil lembrar isso na próxima campanha para as eleições internas no PS.


Parabéns ao PSD.

Os dias das eleições

Votei na escola n.º 2 dos Olivais, a escola onde completei o ensino secundário. Uma escola que teve obras significativas nos últimos anos, e que agora tem excelentes condições, incomparáveis com as que tive quando lá estudei. É bom, não é?


Na quarta-feira estacionei o meu carro no largo do carmo, numa rua de estacionamento devidamente demarcado e provido de parquímetros - os quais não tenho de pagar visto que sou residente. Como ando pouco de carro deixo-o ficar estacionado no mesmo sítio durante dias seguidos e, geralmente, salvo uma ou outra borracha do pára-briras que algum bêbedo leva emprestada, não tenho motivos para me preocupar com a segurança do carro. Só que na sexta-feira havia comício do PSD. E quando chego ao largo do carmo vejo uma mesa bem animada com betos à paisana, fardados com t-shirt laranja e óculos ray-ban, bebericando mines justamente no local onde, pensava eu, estaria o meu carro. Perguntei ao polícia, que mostrou-se surpreendido e disse que não sabia de nada. Só lá estava para garantir a ordem. Lá acabei por saber que tinham rebocado o meu carro para outro largo, ainda dentro da zona onde tenho direito a estacionamento - foram cuidadosos e pouparam-me a uma multa. O PSD precisava do espaço para fazer o comício final de campanha e os restaurantes exigiam um espaço para as esplanadas. O PSD resolve a coisa oferecendo o que não é deles: a rua onde estava estacionado o meu carro. É curioso como um partido que, depois de uma evolução falhada, faz agora questão de mostrar que ocupa bem o seu espaço no 25 de Abril - pena é que, para ocupar este espaço, tenha de mandar fora tudo tudo o que lá estava antes. Incluindo o meu carro. Que eu saiba, isto nem sequer é legal. É mau, não é?

Friday, 3 June 2011

Duas previsões para o próximo governo

Vai durar menos de dois anos. Não irá sobreviver à re-negociação e aos termos dessa re-negociação, nem à evidência de que o cumprimento do acordo da troika até esse momento serviu apenas para reduzir salários da função pública, mudar a lei laboral e privatizar algumas empresas.

O líder da oposição, durante todo esse período, será José Sócrates. Que será o grande vencedor da eleição de Domingo, perdendo-a.

PS - Nem uma nem a outra me deixam contente.

Thursday, 2 June 2011

No Conselho de Ministros, no Parlamento e na Quadratura do Círculo

Na segunda-feira Passos Coelho terá três grandes adversários: Paulo Portas, José Sócrates e Pacheco Pereira.

Wednesday, 1 June 2011

Política

O debate político tem-se reduzido a um discurso técnico. Estes são competentes? São bons a fazer o que nós achamos que eles devem fazer? Esta é uma vitória clara do PSD - a redução da política através de uma política de redução, e passe o trocadilho fácil, que todos nós temos um Paulo Portas a assomar garganta acima, é isto que penso: para eles, o problema é simples. Devemos dinheiro porque gastámos mais do que ganhámos, e agora - até é só aritmética -, é fácil, é preciso gastar menos e produzir mais. Tudo é neutro, tudo é vazio, tudo são contas de subtrair. Há países muito bons onde já nem há discussão política, mas técnica (de qualidade desmensuradamente superior à do nosso país), e onde o estado gasta pouco dinheiro - e até se cumprem programas de instituições internacionais, uma do outro lado da rua do FMI. É na África Subsariana.

Argumento da diligência

Nogueira Leite vem agora dizer o óbvio. Mais do que questionar a honestidade intelectual de economistas que se esqueceram de dizer o óbvio nos últimos meses, acusando quem o fazia de ser radical e não ter em conta os graves prejuízos que o inevitável iria trazer ao país, (o que ajudou entretanto a produzir um estranho documento com duas versões e que prevê um conjunto de medidas com forte impacte social), é importante virar o argumento da diligência. O argumento da diligência, aventado por vários insuspeitos social democratas, incluindo Pacheco Pereira e Passos Coelho, é o de que o PSD, por ser ideologicamente mais próximo do documento da troika, é o partido mais preparado para implementar o programa. "Se" houver renegociação, e se esta implicar, por exemplo, a saída do euro e a rasura do programa da troika, e se o argumento da diligência for correcto, então o PSD deixará de ser o partido melhor para o governo nessas circunstâncias.