Saturday 9 April 2011

Da euforia do liberalismo



É quase Maio, e florescem flores de euforia com a entrada do FMI por parte de uma certa direita. É quase Maio, mas ainda é Abril.

O principal argumento subjacente a esta euforia é que eles - o FMI - vêm pôr a economia e a política na ordem. Vâo cortar despesas, vão reduzir o tamanho do estado e, por consequência, da corrupção e do favorecimento de uma classe associada ao movimento partidário, que é viciada e pouco produtiva, em detrimento de premiar o mérito e o empreendedorismo. Esta é uma crença que se baseia na ingenuidade do liberalismo.

O liberalismo, como ideologia nascida e tornada possível com o iluminismo, funda-se na crença que todas as coisas boas vêm em conjunto. Os mercados livres premeiam o mérito, desincentivam os vícios e favorecem o desenvolvimento, a paz e a democracia. Esta crença não tem fundamento empírico nem respeita noções básicas de economia ou história. O desenvolvimento económico dos países, quer no século XIX quer no século XXI, foi feito com base na manipulação de mercados, incluindo uma forte intervenção estatal. Raramente se traduziram em processos pacíficos, que favorecessem o mérito e desincentivassem a corrupção e o vício. Quando permitiram a democracia, esta surgiu e tornou-se possível com base em esquemas de favorecimento de interesses da sociedade em detrimento de outros.

A narrativa do deslumbramento com a entrada do FMI, que é a mesma onde se baseiam as saudações às entradas do Banco Mundial nos países mais pobres, resulta deste vício intelectual do liberalismo: cortando despesas, limitando e moralizando o estado, vamos criar condições para uma economia mais forte, mais sólida, e isto é inquestionável. As entradas do FMI nos vários países sempre resultaram no inverso, e a explicação, como digo alguns posts abaixo, resulta de que gerir uma economia não é o mesmo que gerir uma casa de boas famílias, disciplinada e moralmente sã. Cortar despesas num período de recessão é uma receita pouco racional, fundada num preconceito ideológico, e que nos custará a recessão de uma geração.