Saturday, 28 June 2014

Vampyre - a tale

1816 foi conhecido como um ano sem Verão. Uma série de anormalidades metereológicas privou a Europa e uma boa parte da América de um Verão propriamente dito - parece que chegou mesmo a nevar a Junho, e a temperatura andava pouco positiva. 

Lord Byron passava férias numa casa arrendada junto do lago de Genebra. O mau tempo em Junho impedia o passeio rotineiro e solitário de barco até a uma pequena cidade cantã nas margens do lago, onde se abastecia de tabacos e álcool. Acompanhava-o neste não-Verão o seu médico, um rapaz de dezanove anos, filho de italiano refugiado em Londres. É, pelo menos, assim que as biografias de Byron se parecem referir a John Polidori: o seu physician.

Porventura sem saber o que fazer com tanta saúde, resolveu convidar três amigos para passar uns dias na casa do lago de Genebra: a Mary Shelley, aquele que viria a ser o marido de Mary, Percy, e Claire Clairmont, meia irmã de Mary, e que viria a ser mãe de uma filha de Lord Byron. Numa noite fria, e depois de lerem à vez poemas do sublime e do sobrenatural, Byron propõe um concurso. Cada um deles escreveria uma história de fantasmas, que seriam depois lidas e votadas pelos convivas. Recolheram-se durante a noite e, ao serão do dia seguinte, cada um tinha uma história a apresentar - bom, Byron nem por isso, porque rapidamente desistiu de um fragmento que não achou próprio para a contenda. Mary Shelley tinha escrito a história que ficaria conhecida como o Frankenstein. O marido não sei bem o que escreveu, e também não sei o que terá escrito a meia irmã. O italiano de dezanove anos escreveu um conto chamado Vampyre. Byron ouviu o médico Polidori ler o primeiro conto que alguma vez foi escrito sobre um lorde inglês que na verdade é um vampiro, um homem mal-morto, de dentes afiados, que suga a juventude e a beleza dos comunais, e riu. Mas riu tanto que Polidori, ofendido, resolveu recolher à terra do pai, algures no norte da Itália, onde ainda passou uns anos. Ao regressar a Londres, apercebe-se que alguém teria publicado a sua história de horror, o Vampyre, numa revista. Mas o que mais o surpreendeu é que o nome do autor era Lord Byron. 

Quer Lord Byron quer Polidori desdobraram-se, certo que por motivos diferentes, em desmentidos, mas ninguém parecia acreditar que um médico fosse escrever histórias de mal-mortos. Em grande desgosto - e, certamente, entregue à ironia de ser um autor que não é mais autor do que personagem do seu próprio livro -, matou-se na casa onde nasceu. No soho, em Londres.