Há algo de insuperavelmente incompleto na perfeição. Está aquém. Não tem pontas, não pica, não espeta, não arrisca, não vai além e, por isso, não surpreende. E a gente esquece o que não surpreende. As coisas perfeitas, aliás, são a cópia da nossa própria imaginação - são na melhor das hipóteses aquilo que imaginamos. A imaginação, sendo nossa, é coisa muito aborrecida. É o que não imaginamos que nos apaixona. De outra maneira, estamos a apaixonar-nos por uma parte de nós. E crescer, o processo a que estamos mais ou menos condenados, é deixarmos de nos apaixonarmos por nós mesmos.
É por isso que gosto tanto deste poema do Yeats. Para mim, na minha leitura diletante, é o maior elogio à imperfeição.
É por isso que gosto tanto deste poema do Yeats. Para mim, na minha leitura diletante, é o maior elogio à imperfeição.
Had I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.
Se fosse vestido com a perfeição, com todo o céu estrelado, completo e escuro, se andasse com ele às minhas costas, a cobrir-me, eu estendia-o para que passasses por cima; mas não, eu, que sou pobre - sou pobre de graça -, tenho sonhos, aquilo que nem controlo, aquilo que é só meu, que só eu vejo, que não faço, e nem sei o que é. Aquilo que sobra à minha imperfeição porque nem é aquilo que sou. Estendo os sonhos no chão, e peço apenas que os pises devagarinho porque são os meus sonhos. É aquilo que não sou, mas é o melhor daquilo que deixei de ser. É o que sobrará na tua ideia: a minha imperfeição, os meus sonhos, que são maiores que a tua imaginação.
Feliz dia de S. Valentim ao mundo, a partir de Londres. Que não é a cidade de Yeats.