Friday, 14 February 2014

Dia de namorados

Há algo de insuperavelmente incompleto na perfeição. Está aquém. Não tem pontas, não pica, não espeta, não arrisca, não vai além e, por isso, não surpreende. E a gente esquece o que não surpreende. As coisas perfeitas, aliás, são a cópia da nossa própria imaginação - são na melhor das hipóteses aquilo que imaginamos. A imaginação, sendo nossa, é coisa muito aborrecida. É o que não imaginamos que nos apaixona. De outra maneira, estamos a apaixonar-nos por uma parte de nós. E crescer, o processo a que estamos mais ou menos condenados, é deixarmos de nos apaixonarmos por nós mesmos.

É por isso que gosto tanto deste poema do Yeats. Para mim, na minha leitura diletante, é o maior elogio à imperfeição.

Had I the heavens’ embroidered cloths, 
Enwrought with golden and silver light, 
The blue and the dim and the dark cloths 
Of night and light and the half light, 
I would spread the cloths under your feet: 
But I, being poor, have only my dreams; 
I have spread my dreams under your feet; 
Tread softly because you tread on my dreams.

Se fosse vestido com a perfeição, com todo o céu estrelado, completo e escuro, se andasse com ele às minhas costas, a cobrir-me, eu estendia-o para que passasses por cima; mas não, eu, que sou pobre - sou pobre de graça -, tenho sonhos, aquilo que nem controlo, aquilo que é só meu, que só eu vejo, que não faço, e nem sei o que é. Aquilo que sobra à minha imperfeição porque nem é aquilo que sou. Estendo os sonhos no chão, e peço apenas que os pises devagarinho porque são os meus sonhos. É aquilo que não sou, mas é o melhor daquilo que deixei de ser. É o que sobrará na tua ideia: a minha imperfeição, os meus sonhos, que são maiores que a tua imaginação. 

Feliz dia de S. Valentim ao mundo, a partir de Londres. Que não é a cidade de Yeats.