Pietro Liberi, o tempo derrotado pela Verdade, algures no século dezassete
Parece que um sujeito enganou o Expresso e a SIC Notícias, fazendo-se passar por alto funcionário da ONU e expressando opiniões fortemente idiossincráticas que se colocavam, aliás, ao mais radical arrepio da opinião e da prática de pelo menos duas das agências especializadas nas Nações Unidas, o Banco Mundial e o FMI. E tudo isto a acontecer, com grande sorte, nos media portugueses. Só mesmo jornalistas - só mesmo jornalistas portugueses - é que podiam encarar com tanta normalidade que um alto funcionário de uma organização pública pudesse mandar bitaites na televisão, a título pessoal. Por incompetência, desconhecem por completo o modo de funcionamento de uma organização como a ONU e, por vocação, acham normal que um funcionário de uma organização pública sirva de fonte e fale a título pessoal.
A capacidade de discernir a ficção da realidade não é o forte dos portugueses. Um dos episódios mais enternecedores desta incapacidade deu-se quando a RTP teve de explicar publicamente que o programa Último a Sair era um reality show a brincar, apesar de o apresentador Miguel Guilherme ser frequentemente chamado Teresa e o Marco, do Big Brother, ser novamente expulso, no primeiro programa, por dar um pontapé num concorrente. O humor absurdo, nonsense, não é muito popular em Portugal por uma concorrência absolutamente desleal da realidade.