Friday, 10 July 2015

Das revoluções e da areia

Sob as pedras da calçada está a praia, mas não nos devíamos esquecer que a praia é sobretudo areia, e para a areia volta o imperial César e o Yorick, e nós com eles. Atrás da política estão pessoas. E nesta semana não concordei nada com quem achou que a mulher do PM se exibiu em público, a si e à sua doença, para obter ganhos políticos. Na verdade, achei a atitude dela inspiradora. Da mesma areia por trás das pedras da calçada com as quais se fazem revoluções. E não é por ser de esquerda que acho que a malta de direita não é da mesma areia que eu. É por ser de esquerda que o sei.

Por mais que o novo acordo grego me desiluda, não consigo deixar de ter uma enorme compaixão pelo Tsipras. E pensar nas noites em que aquele homem, errático e volúvel, não dorme, aterrorizado com a necessidade de aceitar que tem de tomar decisão que, sendo inevitável, pode ser tão dramática no curto prazo. As referências acima ao Hamlet não são acidentais. Um Primeiro Ministro que estaria disposto a fazer tudo, menos a única coisa que terá de acabar por fazer.