Tuesday, 23 April 2013

Sobre as recentes nomeações para o governo...

...tenho uma questão e uma citação:

Para a semana tenho de ir a Bruxelas, e gostaria de poder orientar a minha vida. Se continuar a apoucar o governo de forma particularmente rude, poderei vir a ser convidado a integrá-lo?

E a citação é do Garrett: "Foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde…."

Saturday, 20 April 2013

Tirania


"Sim, é verdade que o meu governo é criticável, mas, ainda assim, há pelo norte do país uns estrangeiros latifundiários que"..., explicou-me um húngaro razoável em Bucareste quando lhe perguntei pela situação do país. Toda a tirania tem cabido em homens razoáveis que começam a falar em latifundiários estrangeiros. Acho eu.

Fui em trabalho a Bucareste. O palácio que Caucesco mandou construir, o segundo maior edifício do mundo, é um enxerto muralhado no coração de uma cidade que rasgou, a prédios de betão, longas e largas avenidas que escondem o bairro histórico, religioso, burguês e popular. Logo que entrei no táxi perguntei pelo palácio. Sempre que via um edifício alto, perguntava ao taxista se era aquele, e ele pedia-me pacientemente para esperar. A certa altura apontou entusiasmado para o sítio onde Caucesco teria sido morto - afinal, era apenas uma lenda, ele foi morto numa base militar, mas não deixa de ser sintomático que o taxista tivesse mais vontade de me mostrar onde Caucesco tinha sido morto, e falar-me de como o Mourinho era um tipo arrogante ou rir-se de mim quando perguntei pelo cinto de segurança, do que mostrar-me o palácio que o tirano construiu no coração da cidade dele. 

Nos Irmãos Karamazov, que calha andar a ler, o estróina Piotr Aleksandrovitch admite, a certa altura, que, se calhar, também tem alojado dentro de si um espírito mau, de pequeno calibre; aliás, porque se fosse maior, escolheria outra casa. E dá que pensar que a tirania é um reduto grandioso. É a casa onde cabe o espírito mau de grande calibre. O esconderijo, sumptuoso e vulnerável, grandioso e enclausurado, onde habitava um homem que, percebi jantando com um colega romeno, tinha a formação de um Relvas e a ambição de um Barroso. Como é que homens destes chegam ao poder e como é que deixam que construam casas como esta? A questão talvez esteja mais naquilo que existe que distrai de olhar para a casa enquanto ela é construída. Há para aí uns estrangeiros...

(E, por falar em estrangeiros, liguei a TVe vi que os romenos também têm um "Romania's got talent": Não é surpreendente que um "conceito", um produto televisivo, baseado na ideia que um certo país em específico tem talento, possa ser vendido e replicado para todos os países? O capitalismo flirta  com o patriotismo como uma vaca de peluche com dinheiro dentro. E assim um dia aparecem os latifundiários estrangeiros no norte do país...)